sábado, 29 de outubro de 2011

Aposta

(…)
― Notei que ultimamente você tem pensado muito ― para não dizer excessivamente ― na morte e na existência em geral.
― Sim, é um exercício interessante, apesar de nem sempre ser agradável. Na verdade, é bem raro não ser espinhoso.
― Por que não para, então?
― Já tentei, mas acho que não consigo. Tenho a sensação de que estou negligenciando alguma coisa de suma importância, quando tento viver sem refletir sobre essas coisas. Além do mais, acho que a longo prazo pode ser bom.
― Como assim?
― Tenho a impressão de que a maioria das pessoas só vai pensar seriamente na morte e nas questões adjacentes quando já está no fim da vida. Estou apostando que pensar nisso agora vai ser uma ajuda para eu me situar nas atividades humanas e entender o significado das minhas ações dentro delas.
― E se você perder essa aposta?
― Se eu perder, o que terei será uma vida inteira turvada por uma mente cheia de raciocínios tortuosos e ineficazes.